Um novo escândalo sacudiu a administração pública federal em maio de 2025, envolvendo o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e dezenas de associações e entidades de classe. O caso veio à tona após denúncias de que descontos indevidos estavam sendo aplicados em aposentadorias e pensões, muitas vezes sem o consentimento dos beneficiários. A Controladoria-Geral da União (CGU) confirmou as irregularidades, dando início a uma crise que culminou na demissão de autoridades e na suspensão de programas do governo.
Segundo apurações, o esquema envolvia a inclusão automática de descontos mensais em folha para custear “serviços” prestados por entidades sindicais, cooperativas ou associações conveniadas ao INSS — sem a devida autorização expressa dos segurados. O problema se agravou com o uso do aplicativo Meu INSS e de parcerias tecnológicas, como com o banco digital PicPay, que operava o programa “Meu INSS Vale+”.
Descoberta e início das investigações
A CGU iniciou auditorias após relatos crescentes de aposentados e pensionistas que notaram descontos não reconhecidos em seus benefícios. Em muitos casos, as vítimas sequer sabiam que estavam associadas às entidades cobradoras.
O relatório preliminar da CGU apontou que mais de R$ 2,5 bilhões foram repassados nos últimos dois anos a 12 entidades agora sob investigação. As entidades alegavam fornecer serviços como plano odontológico, assessoria jurídica e seguros, mas na maioria dos casos, os serviços nunca foram utilizados ou nem mesmo contratados.
Entre os indícios mais graves estavam:
- A falta de consentimento formal dos beneficiários;
- A dificuldade para cancelar os descontos;
- O uso indevido de dados pessoais;
- E a conivência de servidores e plataformas digitais na operacionalização do sistema.
Demissões e mudanças no governo
Com a gravidade da situação, o então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, foi demitido pelo ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, no início de maio. Logo em seguida, o próprio ministro pediu exoneração, alegando “responsabilidade política” pelo ocorrido.
Para os seus lugares, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nomeou Gilberto Waller Júnior como novo presidente do INSS e Wolney Queiroz como ministro da Previdência. As mudanças foram vistas como uma tentativa de estancar a crise e restaurar a credibilidade da pasta.
A Casa Civil e o Palácio do Planalto passaram a acompanhar de perto o caso, com o presidente Lula determinando tolerância zero para fraudes contra aposentados e pensionistas, um dos grupos mais vulneráveis da população.
O caso do PicPay e o “Meu INSS Vale+”
Outro ponto que ampliou as críticas foi o envolvimento da empresa privada PicPay Bank, que operava o programa “Meu INSS Vale+”, criado para facilitar empréstimos consignados, descontos em compras e outras facilidades para beneficiários do INSS.
A plataforma era integrada ao app Meu INSS e oferecia serviços por meio de “convênios” com associações. No entanto, segundo a CGU, o modelo facilitava a adesão não autorizada dos usuários e mascarava os verdadeiros responsáveis pelos descontos.
Após a revelação, o Ministério da Previdência determinou a suspensão imediata do “Meu INSS Vale+”, e o Banco Central foi acionado para investigar a conduta do PicPay e sua relação com as entidades envolvidas. Em nota, a fintech negou qualquer irregularidade e afirmou que apenas operacionalizava os serviços conforme acordos com o governo e com entidades registradas.
Reações no Congresso e entre aposentados
Parlamentares de oposição e até mesmo da base governista exigiram maior rigor na fiscalização dos convênios firmados pelo INSS. O senador Omar Aziz (PSD-AM), presidente da Comissão de Fiscalização e Controle, anunciou a abertura de uma CPI do INSS, com o objetivo de investigar a fundo o esquema.
Organizações de defesa dos aposentados, como a Cobap (Confederação Brasileira de Aposentados e Pensionistas), denunciaram o que chamaram de “roubo institucionalizado”. “Estavam tratando aposentado como gado, descontando sem autorização e ainda dificultando o cancelamento. Isso é inadmissível”, afirmou o presidente da entidade.
Impactos sociais e políticos
O escândalo teve impacto direto na popularidade do governo, especialmente entre eleitores idosos — um dos principais grupos de apoio histórico do presidente Lula. Para conter os danos, o governo lançou uma força-tarefa para auditoria de todos os convênios com entidades associativas.
Além disso, foi anunciado um novo sistema de validação dos descontos, que exigirá dupla autenticação e confirmação via biometria ou assinatura digital. A expectativa é que essas medidas evitem fraudes futuras e aumentem a transparência na gestão dos benefícios previdenciários.
A resposta oficial do governo
Em pronunciamento, o novo ministro da Previdência, Wolney Queiroz, afirmou que “a prioridade é proteger os aposentados e reestabelecer a confiança no sistema”. Ele também prometeu rever todos os convênios vigentes e abrir canais para que os beneficiários possam consultar e cancelar descontos com mais facilidade.
Já o novo presidente do INSS, Gilberto Waller, prometeu investir em capacitação de servidores, reformulação do sistema digital e transparência pública, além de cooperação com o Ministério Público Federal para punir os responsáveis.
Perspectivas e próximos passos
O escândalo expôs fragilidades históricas do sistema previdenciário, que há anos convive com convênios questionáveis e pouca fiscalização. Agora, com o caso sob os holofotes da imprensa e do Congresso, espera-se uma reforma profunda na política de parcerias e no sistema de descontos em folha.
A população, por sua vez, aguarda não apenas respostas, mas justiça. Para muitos aposentados lesados, o valor perdido em descontos indevidos representa remédios que deixaram de comprar ou alimentos que não puderam levar para casa.
O caso ainda está sendo investigado pela Polícia Federal e pelo Ministério Público, que apuram possível formação de quadrilha, falsidade ideológica, apropriação indébita e corrupção ativa e passiva.