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Açaí e tucupi garantidos no cardápio da COP30 após polêmica; ministro critica preconceito contra o Norte

A organização da COP30, que será realizada em Belém em novembro de 2025, confirmou nesta terça-feira (19) que pratos típicos da culinária paraense como açaí, tucupi, tacacá e maniçoba estarão presentes no cardápio oficial do evento. A decisão foi tomada após críticas à proposta inicial de oferecer apenas pratos de padrão internacional, sem dar espaço à rica gastronomia amazônica.

A mudança foi anunciada pelo ministro do Turismo, Celso Sabino, que classificou a exclusão inicial como “um erro que beirava o preconceito contra a Região Norte”. Em coletiva, o ministro afirmou: “Não vamos permitir preconceito contra a Região Norte, nem contra nossa cultura e gastronomia. A COP30 precisa refletir a Amazônia e os povos que vivem nela. O mundo inteiro deve conhecer a riqueza da nossa cozinha.”


A polêmica: cardápio sem a Amazônia

A polêmica começou quando parte do cardápio provisório da conferência vazou na imprensa, mostrando apenas opções internacionais — como massas italianas, carnes grelhadas, saladas europeias e pratos vegetarianos genéricos. Não havia menção a ingredientes locais como jambu, farinha de mandioca, peixes amazônicos ou o tradicional açaí.

A repercussão foi imediata. Movimentos culturais, chefs, políticos e cidadãos comuns criticaram duramente a decisão. Nas redes sociais, hashtags como #AçaíNaCOP30 e #RespeitaONorte viralizaram em poucas horas.

A chef paraense Thiago Castanho, referência na culinária amazônica, chegou a declarar: “Receber uma COP na Amazônia e não servir açaí é como sediar uma Copa do Mundo no Brasil sem oferecer futebol. É negar a identidade de um povo.”


A força da gastronomia paraense

A culinária do Pará é considerada uma das mais autênticas e influentes do Brasil, reunindo influências indígenas, africanas e portuguesas. O uso de ingredientes locais, como o tucupi (caldo fermentado da mandioca brava), o jambu (erva que provoca leve dormência na boca), além de peixes como o tambaqui e o pirarucu, conferem características únicas.

Entre os pratos confirmados para a COP30 estão:

  • Tacacá – caldo de tucupi com jambu, camarão seco e goma de mandioca.
  • Pato no tucupi – prato tradicional servido em ocasiões festivas.
  • Maniçoba – iguaria feita com folhas de mandioca cozidas por dias, misturadas a carnes.
  • Açaí puro – servido com peixe frito ou farinha de tapioca, no estilo paraense, além das versões doces.

O açaí, em especial, ganhou destaque mundial como “superalimento”, mas frequentemente é consumido fora do Brasil em versões industrializadas e distantes de sua tradição amazônica. Durante a COP30, os visitantes poderão conhecer o fruto em sua forma original, consumido com peixe ou farinha, como fazem os paraenses.


Ministro reage e aponta preconceito

Em discurso firme, o ministro Celso Sabino defendeu a decisão de incluir os pratos típicos e acusou setores da organização internacional de alimentarem uma visão preconceituosa contra o Norte do país.

“Não é aceitável que se queira invisibilizar a Amazônia dentro da Amazônia. A COP30 acontece em Belém, não em Paris ou Nova Iorque. É aqui que o mundo precisa aprender sobre diversidade cultural e ambiental”, afirmou.

Segundo Sabino, o cardápio da conferência será um dos principais meios de apresentar ao mundo a identidade paraense: “A gastronomia é cultura viva. Negá-la é negar parte da essência da floresta e do povo que aqui vive.”


Apoio popular e cultural

A decisão de rever o cardápio foi celebrada por lideranças culturais e pela população local. Em Belém, restaurantes já se preparam para um boom de demanda, e a notícia foi recebida como uma vitória da identidade regional.

A professora de antropologia da UFPA, Rita Tavares, explica a importância do tema: “A comida não é apenas alimento, é símbolo de pertencimento e resistência. Ao incluir o açaí e o tucupi na COP30, o Brasil envia uma mensagem política: a Amazônia não é só floresta, é também gente, cultura e tradição.”


Turismo e economia

A inclusão da gastronomia paraense deve trazer benefícios econômicos. O Pará já se consolidava como destino de turismo gastronômico antes mesmo da COP30, atraindo visitantes interessados na chamada “cozinha amazônica contemporânea”.

Segundo dados da Empresa de Turismo do Pará (Paratur), o setor gastronômico deve ser um dos mais beneficiados durante o evento, com expectativa de movimentar R$ 400 milhões em restaurantes, bares, feiras e serviços de catering.

“É a oportunidade de mostrar ao mundo que o Pará não exporta apenas commodities. Exportamos também cultura e sabores únicos. Muitos estrangeiros que provarem tacacá ou maniçoba aqui levarão essa experiência para sempre”, afirma o chef paraense Paulo Martins.


O simbolismo político da decisão

Mais do que uma mudança de cardápio, especialistas enxergam a inclusão dos pratos como uma afirmação política e simbólica. A COP30 não será apenas uma conferência técnica sobre redução de carbono, mas um espaço de valorização dos povos tradicionais e da identidade amazônica.

“Durante muito tempo, o Norte do Brasil foi invisibilizado nos grandes debates nacionais. A polêmica do cardápio foi apenas um exemplo disso. Ao garantir a presença da nossa gastronomia, mostramos que a Amazônia não é apenas um território a ser preservado, mas um lugar vivo, pulsante e cheio de cultura”, destacou o governador Helder Barbalho.


Repercussão internacional

A decisão também repercutiu fora do Brasil. Veículos internacionais como The Guardian e Le Monde destacaram a força da pressão popular e o simbolismo de valorizar a cultura local em um evento global.

Organizações indígenas e ambientais celebraram a mudança. Para a coordenadora da COIAB (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira), Maria Leusa Kaba, “servir o alimento da floresta é reconhecer que ela é viva e que nela vivem povos que a defendem há séculos.”


Legado cultural da COP30

Além das discussões sobre clima, a expectativa é que a COP30 deixe um legado cultural para Belém e para a região amazônica. A gastronomia, vista como uma das maiores expressões da identidade local, deve ganhar visibilidade internacional inédita.

Especialistas já preveem aumento no interesse turístico, em novos investimentos no setor gastronômico e até na valorização de ingredientes amazônicos no mercado global.

“O mundo já descobriu o açaí como superalimento. Depois da COP30, poderá descobrir o tucupi, o jambu e tantos outros sabores únicos da floresta”, projeta a socióloga Helena Dias.


Conclusão

A confirmação da presença do açaí, tucupi e outros pratos típicos paraenses no cardápio da COP30 encerra uma polêmica que mobilizou o país e reforça a importância de valorizar a cultura amazônica em um dos eventos mais importantes do planeta.

A decisão não é apenas gastronômica: é política, simbólica e identitária. Para os paraenses, trata-se de uma vitória contra o preconceito histórico sofrido pelo Norte. Para o mundo, é uma oportunidade de vivenciar a Amazônia não apenas como floresta, mas como um território de diversidade cultural e humana.

Como resumiu o ministro Celso Sabino:

“Se o mundo vem à Amazônia discutir o futuro do planeta, que conheça também a alma da Amazônia: sua gente, sua cultura e sua comida.”

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